Quinhentos gramas de dor;
Quinhentos gramas de mal;
Quinhentos gramas de amor;
E raiva serve de sal.
Quatro colheres de tortura;
Outras tantas de tormento;
Leva uma de ternura
A simular o fermento.
Muita raspa de vaidade;
Um bocado de traição,
A que se junta maldade
Que nos possa encher a mão.
Um pedacinho de medo
Que dá cor e o contraste;
De bondade, leva um dedo;
De alegria, quanto baste.
De trabalho, quanto valhas;
De prantos, mil, para o molho;
De desgraça, ponha “ao calhas”;
E de sorte, ponha “a olho”.
Meio litro de desgosto;
Um quilo de coisas más;
E, no fim, a dar o gosto,
Uma pitada de paz.
Mexa a massa bem mexida;
Leve ao forno muito quente.
E eis o bolo da vida
Que a vida nos serve à gente.
(João Baptista Coelho)
Sem comentários:
Enviar um comentário